Dr. Mário Perrone
A vida imita a arte.
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Rondonópolis

                     Hildebrando: a vida imita a arte            

O mais recente episódio da política brasileira mostrou-nos mais um bandido, Hildebrando Pascoal. Mais um para a galeria composta de Sérgio Naya, PC ( que Deus o tenha), João Alves ( o da loteria), Georgina ( a do INSS) e outros simpáticos e competentes heróis. Todos temos sentimentos ambíguos em relação aos canalhas. Medo, admiração, fascínio, raiva, vontade de vingança, e até pena, às vezes.

Quem se lembra dos antigos filmes de cowboy sabe como é importante um bandido ruim. Quanto pior o bandido, melhor a vingança do mocinho. Quanto mais cruel a atitude inicial do calhorda, mais delicioso o Happy end, a morte ou o exílio definitivo do danado. Bandido bom mesmo tinha que ser perverso, hediondo, sórdido, cínico, atrevido, mentiroso, traiçoeiro e , sobretudo, poderoso.  Talvez este último adjetivo é que seja o responsável pela fascinação que estes velhacos  provocam no povo. O cinema nos trouxe grandes atores especializados em fazer grandes bandidos: Jack Palance, com sua cara de mau e Vincent Price com sua admirável canastrice, são apenas dois exemplos.  Que graça tem um bandido fraco, ingênuo, solidário, caridoso? É a eterna luta do bem contra o mal. Não se pode imaginar um filme destes sem o vilão. O mocinho ficaria durante toda a história andando a cavalo e apenas namorando a mocinha. Que coisa sem graça! Não haveria ninguém para vingar e descarregar a raiva que todo mocinho deve ter de todo bandido por todas as maldades que ele fez e possa vir a fazer. É o que dá emoção à história.

Também nas novelas, sentimos a necessidade da presença de um bom vilão, ou uma boa vilã. O interesse na trama aumenta à medida que aumentam as crueldades dos bandidos e das madrastas más. Tal é a importância destes papéis que geralmente são entregues a grandes artistas. Muitas vezes, dão muito mais IBOPE do que os heróis.

A mídia, toda poderosa, sabe o quanto o povo ama os bandidos. Então, nos mostra tudo: como dormem, o que comem, como amam, como se vestem, onde moram, como gastam o dinheiro que roubam. Tudo isto dá uma grande audiência.

Hildebrando é perfeito. Tem tudo para ser um excelente  canalha. Desbancou seus antecessores. Sérgio Naia vira um escoteiro assustado e Georgina, filha de Maria. Mesmo que não tenha culpa, ele apresenta todos os cacoetes de um bom vilão. Tem cara, voz, cinismo,  olhar, postura, tudo de um grande canalha. E, como convém a um canalha, tem atitudes bipolares: manda matar um desafeto com moto-serra, e distribui, no natal , cobertores e brinquedos para os pobres. É um santo. É um demônio. Tem, às vezes, gestos cheios de ternura, intercalados com atos de requintada crueldade. Presumo que fique comovido ao saber que há pessoas que não têm o que comer, mas jamais se sentirá culpado por isto. Como todo grande patife, gosta de ostentar o poder. É um solitário, embora viva cercado de correligionários e capangas, que a esta altura devem ter desaparecido. É tão hipócrita, que acha que não há nada demais em ser mafioso e deputado ao mesmo tempo. Acha que pequenos delitos, como mandar soltar traficantes, não trazem problema nenhum.

Como podem dizer isto de uma pessoa como eu?  O povo me escolheu, de livre e espontânea vontade. Como podem fazer uma tamanha injustiça?

E os quarenta e um deputados que votaram contra a cassação? Que motivo os teria levado a tal escolha? Seriam eles cidadãos de um altíssimo senso de benevolência que teriam, num gesto de extrema bondade, perdoado estas pequenas travessuras  do colega? Ou....deixa pra lá!

E assim continua a vida imitando a arte. Vem aí o próximo capítulo: o suplente do Hildebrando vai tomar posse. Este eu não perco! Dizem que é ótimo.