Heróis Brasileiros.
Conversando com uma amiga, destas ingênuas e sentimentais, ouvi a seguinte
frase sobre o episódio Jorgina, a fraudadora da previdência: Tadinha, deviam soltá-la. Ela já sofreu tanto.
Esta frase pode ser analisada sob vários prismas. Provavelmente, o que ela
quis dizer foi que Jorgina, acabada e doente, já não pode fazer mais mal à sociedade,
e nisto ela tem razão. Mas lei é lei e deve ser cumprida.
Entretanto, esta frase, que representa
o pensamento de muitas pessoas no Brasil, mostra claramente a incrível capacidade de perdoar que tem o povo brasileiro. Não
só perdoar, mas, inverter papéis. Os grandes canalhas, quando ficam famosos,
viram ídolos.
E, como estamos numa prolongada
entressafra de verdadeiros heróis, somos obrigados a aceitar os que a mídia inventa.
Armam um verdadeiro circo em cima deles e, os promovem de todas as maneiras possíveis.
Não se assustem se algum programa de TV oferecer um Palio para você ligar para 0900 se acha que Jorgina deve ser solta
ou deve cumprir pena em prisão normal. Também pode acontecer dela ser contratada para fazer algum comercial, digamos de xampu.
Há vários tipos de heróis.
Os
espertinhos, como a já citada Jorgina, o famoso PC( que Deus o tenha), o sinistro João Alves, o falastrão Presidente
Fernando I e uma lista interminável deles, nos causam até uma certa inveja. Diretamente,
não matam ninguém e são muito admirados pela vida luxuosa que levam e pela brilhante inteligência. São tão populares, que
certamente se canditados forem, eleitos serão. Se o PC não tivesse tido o trágico fim ( passional ou queima de arquivo, como
não ficou claro até hoje e nunca ficará) seria um deputado. D. Fernando I, como
sabemos, tem intenções de voltar ao tão cobiçado cargo.
Outro tipo criado pela mídia é o herói bandido. Como exemplo podemos citar
o delinqüente Leonardo Pareja ( In memorian). Suas façanhas foram tão propagadas pela imprensa que houve casos de crianças
que diante da famosa pergunta o que vai ser quando crescer, responderam: Leonardo Pareja, é claro. São heróis românticos e despertam paixões. Espero que não apareça outro tão cedo.
Há as heroínas viúvas, que aproveitam a morte de famosos parceiros e escrevem
livros, lançam grifes, viram capas de revistas. A loiraça e espertíssima Adriane Galisteu e a linda Tereza Collor são os melhores
exemplos deste tipo.
Há também as heroínas sex-symbols. Adivinhou? Carla Perez e a Sem-terra sem-roupa.
Os heróis de exportação sequer moram no Brasil. O estabanado Emerson e o melhor
do mundo, Ronaldinho são os mais famosos for export.
Também não posso deixar de citar
os heróis bizarros, tão em moda no momento. O ridículo Tiririca, o colorido Falcão
e o truculento Ratinho formam um time de primeira neste capítulo. Quanto mais grotescos , mais os idolatramos; a mando das
poderosas emissoras de TV, é óbvio.
Evidentemente, existem também os raros e verdadeiros heróis, como o já esquecido Betinho, que tanto lutou para resolver o problema da fome no país. Hoje,
quem fala nele?
Mas, realmente, quem merece toda a nossa admiração pelo seu heroísmo é o professor
da rede estadual que faz milagre para sobreviver, é o médico de serviço público que trabalha por baixos e sempre atrasados
salários, e , é sobretudo o povo brasileiro. Este, sim, é o grande herói deste país.