Dr. Mário Perrone
O Pânico da meningite.
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Rondonópolis

O pânico da meningite.

 

            Não é minha intenção desrespeitar a importância desta doença. Trata-se de uma grave afecção  que deve ser encarada com seriedade e respeito. Mas seriedade e respeito não significam pânico, que é o que ocorre todas as vezes em que a imprensa anuncia um caso de meningite, mesmo não sendo fatal.

Não conheço outro nome que cause tanto pavor como este: meningite. Esta palavra mexe com as estruturas emocionais de toda uma comunidade. Provoca angústia, pânico, situações constrangedoras, taquicardia, insônia, tremedeira, e, às vezes solidariedade. Parodiando o grande Nelson Rodrigues, eu diria que o brasileiro só é solidário na meningite. Um caso desta moléstia é tão poderoso que consegue resolver desavenças antigas de vizinhos; sogras e genros, que não se falavam há anos, voltam a se cumprimentar; todos se comovem diante da meningite. Por que não nos solidarizamos também diante da  tuberculose, da hanseníase, do sarampo, da malária, da miséria, da violência urbana, dos absurdos acidentes de trânsito? Tudo pode, menos meningite.

            Analisando a situação real da doença, podemos dizer que, embora bastante grave, os recursos atuais de tratamento conseguem curar a grande maioria dos casos, principalmente se houver um diagnóstico precoce. Lembremos também que existem formas benignas de meningites e que os casos fulminantes, talvez os causadores da terrível fama da doença, felizmente,  não são os mais freqüentes. É comum, por motivos biológicos, que haja um aumento de número de casos nesta época do ano, mas isto não deve ser motivo para pânico e descontrole generalizado.

            Por ser uma doença de múltiplas causas, não é possível existir uma vacina universal contra a meningite. Mesmo assim, movido pelo terror ou  pela fantasia, o inconsciente coletivo batizou certas vacinas com o nome de  vacina contra a meningite. Na realidade, existem apenas algumas vacinas contra determinadas bactérias que podem ser a causa de meningite e estas não podem criar a ilusão de que protegem contra todas as formas da doença. As mais importantes são as vacinas anti-hemophilus que devem ser aplicadas em crianças até a idade de cinco anos ( nos países desenvolvidos já está no calendário vacinal obrigatório) e as antimeningocócicas que devem ter sua aplicação orientadas pela saúde pública.

            Não posso deixar de registrar que, para recém-nascidos, a melhor forma de proteção contra todas as doenças contagiosas é o aleitamento materno. Esta sim é uma vacina natural, eficaz e gratuita. Para outras faixas etárias, uma alimentação correta e hábitos de vida saudáveis se não protegem totalmente, pelo menos diminuem a chance de uma doença grave.

            Para terminar, quero dizer que muito mais perigosos e virulentos do que a meningite são alguns políticos brasileiros. Estes sim, são sinistros e tenebrosos. Destes, eu realmente  tenho medo. Matam mais do que qualquer forma de meningite. Matam sorrateiramente. Matam crianças de fome e velhinhos aposentados de humilhação. É preciso, urgentemente,  que se descubra uma vacina contra os maus políticos. Quem sabe assim possamos ter um Brasil melhor: sem meningite e sem corrupção.

 

 

Mário Perrone