Dr. Mário Perrone
Contra-senso
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Contra-senso

Reflexões sobre o atendimento médico em consultório 

 

            Ao rever meu arquivo de pacientes fiz uma constatação bastante intrigante e  paradoxal:

         A maioria dos  pacientes que pagam a consulta, ou seja, os particulares, pertence à classe média  baixa e baixa..

         Por outro lado, os pacientes atendidos através de convênios e cooperativas são, na sua maioria, pertencentes às classes sociais mais favorecidas economicamente.

         Os do primeiro grupo chegam ao consultório quase sempre já desiludidos e humilhados pelo equivocado e injusto atendimento público. Por algum itinerário, que pode ser a venda de um pertence, uma colaboração de amigos, ou qualquer outro sacrifício, conseguem o suado dinheiro da consulta . Pouco posso fazer por eles, quase nada. É expressamente proibido solicitar exames de laboratório, receitar medicamentos de preço médio , hospitalizar  . Têm nomes estranhos: Laide Daiane, Maikon Jackson, Kryslaynne, Romário, Edilaine, Ronyedson etc...  Meio de transporte : TCR, ou, no máximo, uma Brasília 76 de um vizinho solidário.  Uns mais, outros menos, todos tem algum déficit nutricional e trazem consigo o cheiro do povo, da Vila Olinda, Jardim Participação, Loteamento Alves, Vila Mamede. Nunca, nem em sonhos, foram conhecer a Dysneyworld. Não usam tênis Nike e suas roupas são compradas no Lojão do Queima em dia de liquidação.           

         Pois é! Deste tipo de paciente é que estamos cobrando a consulta equivalente a meio salário mínimo!

         Já os pacientes do segundo grupo têm um cheiro mais agradável. São os Thiagos, as Carolines os Luízes alguma coisa e as Anas alguma coisa,  Chegam ao consultório em carros 0K, vestem Pakalolo, estudam informática, inglês, jazz, ballet, artes marciais, tudo que estiver na moda. Quando adolescentes, usam aparelhos ortodônticos, fazem terapia e excursão à Disney. São excessivamente nutridos e protegidos. A consulta , é claro, é feita pela alguma coisa Med.

         Pois é! Para este tipo de pacientes estamos fazendo um desconto considerável na consulta, através de um convênio ou cooperativa!

         Veja o disparate! Cobramos caro do pobre barato do rico.

         Quem somos nós? Robin Hoods ao contrário?

 

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