Contra-senso
Reflexões sobre o atendimento médico em consultório
Ao
rever meu arquivo de pacientes fiz uma constatação bastante intrigante e paradoxal:
A
maioria dos pacientes que pagam a consulta, ou seja, os particulares, pertence
à classe média baixa e baixa..
Por
outro lado, os pacientes atendidos através de convênios e cooperativas são, na sua maioria, pertencentes às classes sociais
mais favorecidas economicamente.
Os do primeiro grupo chegam ao consultório quase sempre já desiludidos e humilhados pelo equivocado e injusto atendimento
público. Por algum itinerário, que pode ser a venda de um pertence, uma colaboração de amigos, ou qualquer outro sacrifício,
conseguem o suado dinheiro da consulta . Pouco posso fazer por eles, quase nada. É expressamente proibido solicitar exames
de laboratório, receitar medicamentos de preço médio , hospitalizar . Têm nomes
estranhos: Laide Daiane, Maikon Jackson, Kryslaynne, Romário, Edilaine, Ronyedson etc...
Meio de transporte : TCR, ou, no máximo, uma Brasília 76 de um vizinho solidário.
Uns mais, outros menos, todos tem algum déficit nutricional e trazem consigo o cheiro do povo, da Vila Olinda, Jardim
Participação, Loteamento Alves, Vila Mamede. Nunca, nem em sonhos, foram conhecer a Dysneyworld. Não usam tênis Nike e suas
roupas são compradas no Lojão do Queima em dia de liquidação.
Pois é! Deste
tipo de paciente é que estamos cobrando a consulta equivalente a meio salário mínimo!
Já os pacientes
do segundo grupo têm um cheiro mais agradável. São os Thiagos, as Carolines os Luízes alguma coisa e as Anas alguma coisa, Chegam ao consultório em carros 0K, vestem Pakalolo, estudam informática, inglês,
jazz, ballet, artes marciais, tudo que estiver na moda. Quando adolescentes, usam aparelhos ortodônticos, fazem terapia e
excursão à Disney. São excessivamente nutridos e protegidos. A consulta , é claro, é feita pela alguma coisa Med.
Pois é! Para este
tipo de pacientes estamos fazendo um desconto considerável na consulta, através de um convênio ou cooperativa!
Veja o disparate!
Cobramos caro do pobre barato do rico.
Quem somos nós?
Robin Hoods ao contrário?